Li os jornais acreanos somente nesta segunda-feira. No fim de semana fui obrigado a pegar a estrada até Porto Velho para buscar a Carmela, o Felippe, o Gustavo e a Carmelinha.
O quarteto familiar vinha de Guaxupé, no Sul de Minas Gerais, e não pôde chegar a Rio Branco de avião porque não havia vaga nas aeronaves.
O nosso aeroporto continua sem oferecer as condições mínimas de segurança para pouso e descolagem de aviões de maior porte.
Tirando o fato de necessitar ter uma despesa financeira extra, a viagem foi boa, apesar da indigesta balsa do Abunã e os buracos na estrada, principalmente no trecho em solo acreano.
Na leitura dos jornais a minha atenção voltou-se para uma notícia aparentemente banal: as visitas que os senadores petistas Jorge Viana e Anibal Diniz fizeram a quatro entidades filantrópicas no sábado.
A notícia parece banal, mas não é. Foi um gesto bastante simbólico, ao menos para este escriba. Por trás dele há o comunicado de como Viana e Diniz se comportarão no Parlamento.
É preciso tentar enxergar nas entrelinhas os gestos dos políticos, porque não há nada insignificante na política.
Por não acreditar na insignificância dos gestos políticos, sou da opinião de que há várias formas de entender a movimentação dos parlamentares. Uma delas é que a dupla se comportou com humildade. Os dois iniciaram os seus mandatos ouvindo e sentindo os mais humildes, os excluídos.
Jorge e Anibal sinalizaram claramente que ouviram e sentiram o que o povo acreano quis dizer no último dia 3 de outubro, quando deu a vitória à Frente Popular do Acre, mas avisou nas urnas que era necessária a mudança no comportamento das lideranças da coligação.
O povo é uma fera com milhares de cabeça. Não é possível domá-lo. O melhor caminho é estar próximo a ele, entendê-lo e agir de acordo com as suas necessidades e anseios. A fera quer comida, mas exige carinho, diversão e arte.
A fera quer respeito permanente dos seus representantes. O povo não deve ao político. É o político que deve satisfação constante ao povo.
O gesto dos senadores revela a clara opção de focarem os seus mandatos nas necessidades dos excluídos. Naqueles que, mesmo diante de todas as adversidades, não perderam a capacidade de sonhar.
O escritor Truman Capote ensina que “A morte de um sonho é tão triste e dolorosa como a própria morte. Merece, por isso, o respeito e o luto daqueles que a sofrem”.
O político não pode perder a capacidade de sonhar e de fazer sonhar. Não tem o direito de deixar os sonhos morrerem. São os sonhos que alimentam a alma e dão força para continuar lutando na vida real.
No Educandário Santa Margarida estão crianças à espera de pais, enquanto no Lar dos Vicentinos estão pais sonhando com os filhos que não chegam para visitá-los, para confortá-los, para levá-los de volta às suas casas. Mesmo numa vida de pesadelos todos mantêm acesos os seus sonhos
Na Colônia Souza Araújo vivem hansenianos que têm como referência de mundo as dependências do hospital. São vitimas de uma sociedade mutilada, cujo preconceito lhes coloca à margem da sociedade. Ali estão pessoas que chegaram jovens e hoje caminham para a velhice carregando no corpo da marca da mutilação física e social.
Mas há felicidade na colônia dos hansenianos. São pessoas capazes de receber os visitantes com buquê de rosa cultivada por suas mãos marcadas pela doença secular. Mesmo numa trajetória cheia de espinhos todos sonham em ser vistos como cidadãos e cidadãs comuns.
O mundo não é pintado apenas com as cores da alegria. Na Comunidade Arco-Iris estão jovem que lutam e sonham em escapar de uma mazela que destrói vida e esfacela famílias: a droga.
As quatro entidades refletem bem os diversos problemas vivenciados pela sociedade. São crianças sem lares, idosos sem amparo e jovens que enveredam pelo caminho quase sempre sem volta do consumo de substâncias tóxicas.
São lugares que parte significativa da sociedade finge desconhecer. São casas, porém, que alojam os nossos problemas e, por isso, deveriam merecer mais atenção.
As crianças, jovens e idosos atendidos pelas entidades não necessitam apenas de recursos financeiros e materiais. São dependentes e carentes de gestos de carinho, de afeição, de respeito.
Na missa de domingo, o padre Mássimo Lombardi baseou o seu sermão nas palavras do profeta Isaias. A passagem bíblica guarda afinação com o gesto dos senadores, principalmente no trecho a seguir: “É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante”.
O político tem a missão nobre de ajudar a dão pão ao faminto, de alimentar as pobres, para que a sua luz levante-se na escuridão e sua noite resplandeça como dia pleno.
Em tempo: As fotos são do craque Marcos Vicentti.
De: www.leonildorosas.blogspot.com
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