sexta-feira, 11 de agosto de 2017

'The Guardian': Por que falta de democracia da Venezuela tem mais repercussão que do Brasil?

The Guardian compara maduro a Michel Temer, com governo decadente, falência e falta de democracia


O jornal britânico The Guardian traz em sua edição desta sexta-feira (11) um artigo assinado por Julia Blunck, que compara a falta de democracia vivida na Venezuela com os últimos fatos que vêm acontecendo no Brasil. 

O texto aponta que o mundo inteiro fala sobre a questão da Venezuela. A imprensa britânica questiona Jeremy Corbyn, atual líder do Partido Trabalhista e líder da oposição na Câmara dos Comuns do Reino Unido: o presidente Nicolás Maduro será condenado?

Qual é a posição dele sobre a Venezuela e como isso afeta seus planos para a Grã-Bretanha?

Os problemas reais da Venezuela - um país complexo com uma longa história que não começa com o presidente anterior a Hugo Chávez e certamente não terminará com a intervenção de Jeremy Corbyn.

Isso não é nada novo: a maior parte do tempo, os debates da América Latina são vistos e comentados pelo ocidente.

Claro, a situação na Venezuela é deplorável e preocupante, afirma o Guardian. Mas é fácil ver que a preocupação com os abusos antidemocráticos de Maduro não vem necessariamente da preocupação real com o bem-estar dos venezuelanos.

O vizinho Brasil não foi analisado ou debatido extensivamente, mesmo que demonstre problemas semelhantes, destaca o diário.

O presidente do país, Michel Temer, escapou recentemente de medidas que o levariam a julgamento na Suprema Corte, fazendo com que o congresso os votasse.

O caso contra Temer não era frágil ou partidário: havia uma montanha de provas, incluindo gravações dele debatendo abertamente pagamentos de propinas com o empresário Joesley Batista. 

The Guardian observa que para um presidente colocado no poder sob circunstâncias que controversas, descritas como desonestas, consegue permanecer no poder ao comprar favores do Congresso, aprovando as medidas de austeridade mais severas do mundo, deveria ser suficiente para levantar uma série de questionamentos internacionalmente .

Mas isso não aconteceu, e o Brasil continuou como a maioria das histórias da América Latina: despercebidas e esquecidas.

Artigo argumenta que as histórias sobre acordos sórdidos do Congresso não são tão interessantes para o público estrangeiro, e até muitos brasileiros esgotados e desmoralizados achavam que isso era simplesmente outro complemento de uma longa lista de humilhações que começaram em 2015 quando a economia começou a afundar.

Enquanto isso, a Venezuela tem um conflito humano, o que produz fotos e reflexões emocionantes, suscita debate e, crucialmente, cliques em sites de notícias.

Há apenas tanta atenção a ser obtida falando sobre o enfraquecimento da democracia de Temer, como acontece sem barulho, através de articulações pelo poder tradicional do Brasil. A situação da Venezuela, no entanto, é urgente, com tanques nas ruas e prisões da oposição.

No entanto, existe uma explicação para o porquê a democracia do Brasil não ser tão interessante, e porque a introdução de militares de Temer nas ruas do Rio de Janeiro para abordar uma onda de crime provocou pouca resposta.

A regra de Temer é de um capitalismo duro e de um estado cada vez mais encolhido. Ele estabeleceu um teto sobre os gastos públicos, reduziu os direitos dos trabalhadores e impôs uma rígida reforma da idade de aposentadoria, aponta o noticiário, explica o periódico.

Para o Guardian ascensão de Temer ao poder veio quando ficou claro para os empresários que sua antecessora, Dilma Rousseff, não iria aprovar as medidas de austeridade que os beneficiam.

Eles financiaram e estimularam os protestos - em grande parte por brasileiros de classe média, com raiva, no que viram como corrupção generalizada - enquanto o Congresso bloqueava as contas de Dilma Rousseff e sabotou sua agenda de outras maneiras.

De alguma forma, porém, a conversa sobre a Venezuela é outra coisa. O sofrimento latino-americano está sendo um assunto para debates no Reino Unido.

Como os meios de comunicação da direita afirmam, Jeremy Corbyn parece não se importar muito com as milhares de pessoas famintas pela mão de Maduro - talvez ele também pense que é simplesmente uma conseqüência da intromissão americana - mas é difícil acreditar que o direito britânico esteja sinceramente comprometido com a estabilidade e democracia da região. Falou se muito pouco sobre Temer, avalia Guardian.

"As falhas de Temer não são, e não devem ser usadas como desculpa para os atos de Maduro. Nem devemos equiparar os dois homens quanto à sua brutalidade.

No entanto, se você mora no Brasil, onde os funcionários públicos estão desesperados por não serem pagos por cinco meses, onde os ativistas dos direitos indígenas e outros são mortos por agricultores ricos em números sem precedentes, onde vários estados declaram falência por causa de uma queda no preço do petróleo, onde o exército é chamado a enfrentar os manifestantes, você pode se perguntar quando sua situação valerá a pena ser debatida a nível mundial, como a Venezuela".

A resposta é sempre politicamente conveniente, diz a autora.

No final, os comentaristas e políticos britânicos, tanto da esquerda como na direita, não são apenas oportunistas quando se trata de sofrimento latino-americano, ficam satisfeitos quando acontece: prova seu ponto de vista, seja lá o que for.

Nossas vidas são apenas um detalhe, finaliza.

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